Neste ano, em sua 31ª edição, o prêmio de poesia mais tradicional do país traz o tema Cresço e poetizo, explorando as possibilidades da metapoesia.
Há um famoso trecho do escritor estadunidense William Faulkner (1897-1962) que compara a literatura ao ato de acender um palito de fósforo no meio da escuridão. O autor de “O Som e a Fúria” (1929) lembra que, com esse ato, consegue-se iluminar quase nada. Por outro lado, é possível ver quanta escuridão existe ao redor. Notar-se no meio da escuridão pode amedrontar, parecer que estamos sem saber para onde ir. Mas é também o lugar e o momento de se voltar a si mesmo, olhar para o seu interior.
A escuridão é uma oportunidade para o crescimento como sujeito e como poeta. É nela ou a partir dela que surgiram alguns dos mais belos exemplares da literatura mundial. A palavra, assim, torna-se a materialização da parte que é possível exprimir. É, da mesma forma que a iluminação proporcionada pelo fósforo, uma parte muito pequena do que sentimos, do que somos, mas é disso que (sobre)vive a poesia. E é a partir dessa dinâmica que também (sobre)vive o poeta: do crescer proporcionado pelo “poetizar-se”.
O poeta é um ser cujo ciclo de vida não se resume a nascer, crescer, reproduzir e morrer. Sua passagem pelo mundo exige o poetizar ou poetizar-se. E isso o alimenta, nutre, faz crescer e se manter vivo, ainda que, ao seu redor, só pareça existir escuridão. “Faz escuro, mas eu canto”, diria o brasileiro Thiago de Mello (1926-2022). Eu canto porque espero pela manhã? Ou porque é o que me resta? Eu canto porque é o que sei fazer ou porque é isso me faz crescer nas (in)compreensões cotidianas?
Cresce-se quando as palavras passam a ser por nós no mundo, quando elas tomam o lugar de parte de nossas angústias, quando elas nos acalentam. E ainda, quando tudo tiver passado, são elas que restarão a dizer quem fomos neste mundo.