DESDE 1990

Neste ano, em sua 31ª edição, o prêmio de poesia mais tradicional do país traz o tema Cresço e poetizo, explorando as possibilidades da metapoesia. 

Há um famoso trecho do escritor estadunidense William Faulkner (1897-1962) que compara a literatura ao ato de acender um palito de fósforo no meio da escuridão. O autor de “O Som e a Fúria” (1929) lembra que, com esse ato, consegue-se iluminar quase nada. Por outro lado, é possível ver quanta escuridão existe ao redor. Notar-se no meio da escuridão pode amedrontar, parecer que estamos sem saber para onde ir. Mas é também o lugar e o momento de se voltar a si mesmo, olhar para o seu interior.

A escuridão é uma oportunidade para o crescimento como sujeito e como poeta. É nela ou a partir dela que surgiram alguns dos mais belos exemplares da literatura mundial. A palavra, assim, torna-se a materialização da parte que é possível exprimir. É, da mesma forma que a iluminação proporcionada pelo fósforo, uma parte muito pequena do que sentimos, do que somos, mas é disso que (sobre)vive a poesia. E é a partir dessa dinâmica que também (sobre)vive o poeta: do crescer proporcionado pelo “poetizar-se”.

O poeta é um ser cujo ciclo de vida não se resume a nascer, crescer, reproduzir e morrer. Sua passagem pelo mundo exige o poetizar ou poetizar-se. E isso o alimenta, nutre, faz crescer e se manter vivo, ainda que, ao seu redor, só pareça existir escuridão. “Faz escuro, mas eu canto”, diria o brasileiro Thiago de Mello (1926-2022). Eu canto porque espero pela manhã? Ou porque é o que me resta? Eu canto porque é o que sei fazer ou porque é isso me faz crescer nas (in)compreensões cotidianas? 

Cresce-se quando as palavras passam a ser por nós no mundo, quando elas tomam o lugar de parte de nossas angústias, quando elas nos acalentam. E ainda, quando tudo tiver passado, são elas que restarão a dizer quem fomos neste mundo. 

História – Criado em 1990 pelo jornalista Oséas Singh Jr., então Diretor da Cultura do município de Salto – SP, o prêmio nasceu celebrando o tombamento do Parque da Rocha Moutonnée pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo.

Na primeira Antologia Poética dos trabalhos classificados, publicada em 1991, o Prêmio apresentou seu DNA longevo: “A beleza do contato leitor-poesia clama, com urgência, pelos incentivos culturais. O universo interpretado poeticamente tem sua melhor descrição: a da sensibilidade e da intuição. A poesia ajuda o homem a viver melhor o exercício dos sentidos, por isso desejamos e apoiamos sempre mais o aparecimento e o desenvolvimento desses artistas”.

No prefácio, da mesma antologia, há uma citação do filme Sociedade dos Poetas Mortos, em que o professor diz a seus alunos: Não se lê poesias por serem bonitinhas… Mas sim porque somos membros da raça humana. E raça humana está imbuída de paixão. Medicina, Direito, Administração, Engenharia… são ocupações nobres, necessárias à vida. Mas poesia, beleza, romance, amor… isso é o que nos mantém vivos!

É possível dizer que, tanto a poesia como o pensamento tocam tudo, nada lhes escapam. Inclusive o próprio nada, pois o nada enquanto lugar da angústia é realidade possibilitadora do homem criar. Do nada o homem cria.

Parceria –No ano de 2021, em sua 29ª edição, o Prêmio firmou fecunda parceria com a ASLe (Associação Saltense de Letras). Compromisso sedimentado pela Lei 3.860, de 16 de junho de 2021. O objetivo é que este patrimônio artístico tenha mais autonomia, que tenha resistência às lacunas causadas por políticas culturais escusas. A parceria selada entre a Secretaria da Cultura e a ASLe (Academia Saltense de Letras), tornando esta a guardiã artística do Prêmio, foi, sem dúvida, uma extraordinária contribuição, tendo em vista o elevado nível do evento. De fato, foram mais de 1.000 trabalhos inscritos, com participação, além de todo o Brasil, de mais outros sete países: Angola, Moçambique, Estados Unidos, Alemanha, Itália, Portugal e Austrália, reafirmando o estímulo à diversidade, por parte do Prêmio.